terça-feira, 27 de abril de 2010

Conto - Queimem As Bruxas. - Thiago Assoni




- Deixa que queimem, todas elas! - gritou o reverendo. - Seres do demônio!
- Elas têm pacto com o Senhor das Trevas! - gritou mais alguém em meio à multidão.
- Bruxas, malignas! - outrem berrou.

E a fogueira foi acesa. No tronco que se erguia preso ao chão, elas estavam presas, observando em silêncio o fogo consumir pouco a pouco todas aquelas madeiras aos seus pés. Sentiam o calor subir, as labaredas do inferno humano.

Olhavam para todos que ali estavam vendo-nas quase mortas, prontas para serem queimadas. Incriminadas pelos pecados que aqueles que as condenavam cometiam. Aquilo não poderia terminar daquele forma, não era justo! Não naqueles tempos, não em pleno ano de 2010. Aqueles mentes doutrinadas, com pensamentos fervorosos, cegos e doentios, eram os que cometiam os maiores males pelos quais pregavam... Não podiam morrer por ignorância e adoração extremista!

Aquela era a praça onde muitas delas brincaram quando criança, ou que encontravam as amigas após a aula... Aquela mesma praça onde quase todas cresceram, seria também o cenário de suas mortes...

Então, lá ao longe, por depois de toda aquela multidão, viram a Luz que se aproximava mansa, ganhando a praça aos poucos. Demorou até que pudessem notar quem eram:
Eram elas... Eram muitas... Negras, ruivas, orientais, loiras... Eram as matriarcas, as Bruxas! E elas sorriram e este era o motivo de tanta luminescência: a luz emanava de seus sorrisos!
As matriarcas eram um contraste em vista daquela cidade moderna e cheia de prédios. Vestidas com seus longos e esvoaçantes vestidos, criavam um imenso círculo invisível. Apenas as bruxas da fogueira podiam vê-las e mais ninguém.

E todas estavam ali. Todas as que também já foram queimadas séculos atrás! Suas ancestrais. Elas que morreram um dia pelo mesmo motivo: a ignorância, a estupidez, a sede pelo poder da verdade absoluta! Em nome de um deus de amor.
As matriarcas fecharam os olhos, enquanto as bruxas na fogueira ergueram o olhar para a Grande Deusa: a Lua Cheia.

- E que Queimem as Bruxas! - gritou novamente o reverendo. - Se for para ser: que assim seja e assim se faça!

Vindo do alto, um som quase ensurdecedor se fez ouvir. Das entranhas celestiais, dos recônditos divino, um grito clamava por justiça.

- A salvação da alma nunca esteve à venda em nenhum Templo! - gritou uma das bruxas amarrada ao tronco. Era ela, era Wanda. - O Sagrado feminino foi violado em tão tenra idade, todas nós fomos violentadas por esta Palavra que deveria exaltar o Amor, mas apenas mata e causa discórdia...

Outro trovão se fez ouvir, reverberando por todos os cantos da cidade, fazendo tremer desde o prédio mais firme até às mãos agora incertas do reverendo com rugas de preocupação na face.
O céu ia se iluminando de quando em quando, ganhando raios abstratos no firmamento em breu. Wanda olhou para as companheiras naquela mesma situação humilhante e procurou as matriarcas... Mas nenhuma delas estava mais lá. Nem mesmo a Lua brilhava mais no céu.
Não podia ser... Não era possível que tal como o Filho do Homem, estavam elas também sendo abandonadas na hora derradeira...
Mas então, uma voz sussurrou ao ouvido de Wanda, calando aqueles pensamentos.

- Sua alma é fortaleza... Nenhuma Bruxa morre no fogo, apenas transmuta...

Então, não se ouvia mais a turba raivosa em seus gritos histéricos de outrora. Não se ouvia mais o reverendo gritando pela morte daquelas que acusava de serem concubinas de Satã. Fez o silêncio, e um vento rasteiro surgiu, erguendo as chamas que quase tocavam o céu. Pelo fogo, a transmutação... E nenhum grito mais se ouviu.

***

Aos poucos ela sentia o vento passar e o calor das labaredas bruxuleantes à sua frente iam baixas. Wanda estava agora sentada , de pernas cruzadas, num grande terreno rodeado de árvores de cúpulas triangulares e moitas vastas. Era quase possível afirmar que estava escondida naquele terreno de terra vermelha, já que o acesso era difícil.

Um circulo estava desenhado no chão. Wanda estava dentro dele, olhos fechados, mas sentiu o exato momento em que se aproximaram. Elas estavam ali, de mãos dadas, sobre o risco marcado na terra avermelhada que formava o círculo. Wanda apenas sorriu e ouviu:

- A Terra para firmar, a água para irrigar, o vento para transformar e o fogo para lapidar... E que queimem as Bruxas, se assim puder ser... E que assim seja e que assim se faça!




Pitty - Quem vai queimar?

Encaixotem os livres
Desinfectem os cantos
Estuprem as mulheres
Brutalizem os homens.

Despedacem os fracos
Enfeitem a moda
Sodomizem as crianças
Escravizem os velhos.

Fabriquem as armas
Destruam as casas
Façam render a guerra
Escolham os heróis

E queimem as bruxas
Deixa queimar...
E queimem as bruxas
Quem vai queimar?

Empurrem conselhos
Forneçam as drogas
Engulam a comida
Disfarcem bem a culpa.

Protejam a igreja
Perdoem os pecados
Condenem os feitiços
Decidam quem vai morrer.

Contaminem a escola
Violentem os virgens
Aprisionem os livros
Escrevam a história.

E queimem as bruxas
Deixa queimar...
E queimem as bruxas
Quem vai queimar?

Quem ordena a execução
Não acende a fogueira
(Pai, rogai por nós)

E queimem as bruxas
Deixa queimar...
E queimem as bruxas
Quem vai queimar?

sexta-feira, 23 de abril de 2010

I Do Believe in...Fairy???



É um rápido pensamento que tive...





Não sei bem porque, mas não gosto muito das Fadas...
Ela são como irmãs metidas das Bruxas, entende?Como se fossem...As Pathys, sabe?Imagine a relação entre uma gótica e uma Pathy...É assim que eu vejo as Fadas e as Bruxas!As Pathys são lindas e sempre Pop, mas não são verdadeiras, pois sempre procuram agradar.Enquanto as Góticas são o que são e danem-se!




Sei lá...Espero não pecar em um Grande erro...


Mas, por enquanto...É como eu vejo!

Falando de AMOR.




Ah!Como eu Amo!
Uma vez disse que amava alguém... Nove meses se passou e o Amor parece ter acabado...
Mas logo surgiu outro e eu Amei de novo...
Sou capaz de Amar, e “desamo” também!
Quem disse que Amor não morre?
Morre sim!E foi Amor um dia!
Já ouvi dizer que “Se acabou, é porque não era Amor”.
Absurdo!
Na vida, tudo tem um começo... Um meio... E um fim!
Eu Amei e já passou!
O Amor, pra alguns, dura mais e eu acho lindo!
Você Ama e já faz tempo que continua Amando?Vivem juntos?
Que bom!






Podemos ver o Amor como uma pequena embarcação...
Vamos navegando, até uma hora que aquela não é mais a direção que queremos seguir...


Nem o Mar que queremos navegar...


E trocamos de embarcação...


Nunca deixamos de Navegar, sempre continuamos...


E precisamos!


Mas isso não significa que aquela embarcação era ruim...


Só não era o melhor para Ambos ( navegador e "navegando")


E sempre precisamos ir em busca do que é melhor para Ambos, no caso do AMOR...


Também li uma vez...Se não me engano, palavras de Paulo Coelho, que dizem:

Amor é como são os Trilhos do Trem...

Seguem o mesmo rumo, mas cada qual no seu espaço.

Por mais que sigam aquele mesmo caminho, sutentando o mesmo Amor, cada um está onde deve estar.





Ah!Como eu Amo!
Não sei quanto tempo pode durar, mas sei aquilo o que sinto hoje!
O que sinto agora !
E eu Amo!
Sem Medo do Amanhã ou depois.
Se acabar?
Continuo em frente!



Talvez troque de "embarcação"
Mas, prefiro pensar que vai durar...
Que seja Eterno enquanto dure...
Afinal...
O “Pra Sempre”...Sempre acaba!



quarta-feira, 21 de abril de 2010

“No Escuro”... Maldição ou Uma Benção?



Sempre que algo relacionado às Trevas ou ao que vem da Escuridão é mencionado, as pessoas tremem... Culpa, talvez, da Educação Ortodoxa que prega uma visão ditadora e manipuladora para algo que “vem à calhar” ( para o lado do “educador”, é claro!)





Porém, por que temer o Escuro se ele é uma “continuação” do Claro? Por que temer a Noite se ela é apenas uma “emenda” do Dia? Ter medo das Sombras se a própria Luz projeta uma Sombra...





Bom, eu não sei usar de palavras Benevolentes para me expressar e acho em demasia confuso usá-las...Então, com meu modo curioso e leigo de ver as coisas, arrisco-me dizer que:
A ESCURIDÃO É, TAMBÉM, UMA DÁDIVA!





Envolta de tanto mistério e beleza, a Noite ( que representa a Escuridão) é, ao mesmo tempo que temida, admirada! A Magia que nela existe é algo indiscutível!





Não sei se ler “O Grimório Gótico” me influencia em tais palavras...Sinceramente, Não!Já sou um Amante da Noite muito antes de ler esse livro, quem me conhece bem sabe!





Nunca enxergue o Escuro como uma Maldição!Acho que isso depende muito do ponto em que você se coloca na Escuridão ( e olha que essa é uma lição pra se levar na vida como um todo! “ Você está onde você se coloca!” Algo só é ruim quando VOCÊ a torna ruim!)





Use a Escuridão para meditar...Reflita, pense...Concentre suas Energias em alguma coisa Boa, direcione intenções para o Bem...Respire Fundo...Deixe sua mente te levar, use o Escuro para isso...Corra o Mundo, faça Magia!

Não faça do Escuro um Monstro!Pois ele só será se você o fizer!



Pitty - No Escuro

Quando tá escuro

E ninguém me vê

Quando tá escuro

Eu enxergo melhor

Quando tá escuro

Te vejo brilhar

É onde eu abro as minhas asas

Onde eu me sinto em casa

Passo o dia inteiro esperando a noite chegar

Porque não há mais nada que eu queira fazer

Quando tá escuro

Tanto faz que cor tem

Quando tá escuro

Só valem as palavras

Quando tá escuro

Ninguém repara minhas meias

É onde eu fico à vontade, sem medo da claridade

Passo o dia inteiro esperando a noite chegar

Porque não há mais nada que eu queira fazer

A noite chegar

Porque não há mais nada, que eu queira fazer

Quando tá escuro

E ninguém me vê

Quando tá escuro

Eu enxergo melhor

Quando tá escuro

Te vejo brilhar

É onde eu abro as minhas asas

Onde eu me sinto em casa

Passo o dia inteiro esperando a noite chegar

Porque não há mais nada que eu queira fazer


Só no escuro

Só no escuro

Só no escuro

quinta-feira, 15 de abril de 2010

Álvaro De Campos


Quando olho para mim não me percebo.
Tenho tanto a mania de sentir
Que me extravio às vezes ao sair
Das próprias sensações que eu recebo.

O ar que respiro, este licor que bebo
Pertencem ao meu modo de existir,
E eu nunca sei como hei-de concluir
As sensações que a meu pesar concebo.

Nem nunca, propriamente, reparei
Se na verdade sinto o que sinto. Eu
serei tal qual pareço em mim? serei

Tal qual me julgo verdadeiramente?
Mesmo ante as sensações sou um pouco ateu,
Nem sei bem se sou eu quem em mim sente.

* * *

Na verdade, Fernando Pessoa.
Álvaro de Campos é mais um dos seus Três Heterônimos.
Seria este um rapaz futurista, emotivo e reclamão.Chato e meio insuportável, em certos pontos.Normalmente, este é o "personagem" de Fernando Pessoa que os góticos mais admiram, por ter essa queda ao confuso e irreal.Não é regra.

domingo, 11 de abril de 2010

Meu canto escuro


Meu quarto escuro recebia a luz da Lua.
Na noite, lá fora, a chuva molhava a rua...
Meus pensamentos voam longe para te encontrar
Até onde posso ir pra te resgatar?

Eu vejo ao longe um precipício prestes a despencar.
E ouço vozes sussurrando: “Ande... Vá se jogar!”.
As respostas incertas gritam dentro de mim...
Se eu cair nesse abismo, terei você enfim?

Tenho as chaves grudadas, presas na minha mão.
Mas meu medo absurdo não me tira do chão!
Com as asas quebradas, eu não posso sair...
Venha ao meu socorro...Não me deixe cair...

Não quero, com isso, fraco eu me mostrar...
Nesse quarto vazio, eu queria gritar!
Pra que todos meus medos eu possa espantar...
Essas vozes gritando me fizeram pensar...

“Seja lá como for...Vou me levantar...E nesse abismo me jogar!”.

segunda-feira, 5 de abril de 2010

Mistérios equivocados...O OLHO DE HÓRUS - atualizado.




Estava eu conversando com um amigo de MSN quando ele me disse estar magoado com a Lady Gaga...Perguntei o por quê, e ele me disse que, segundo alguns "estudiosos", Lady Gaga seria uma alusão ao Demônio...Será mesmo?

Bom, ele me passou o "clip" cujo os "estudiosos" jogam milhões de FATOS na nossa cara de uma maneira bem...Como diria...Como se fosse uma "Lavagem Cerebral"...

´

Não nego, porém, que realmente existem coisas ali que levam a crer no que eles querem provar, mas eis uma coisa que eu não posso deixar passar em silêncio... Neste Clip (veja acima ) eles afirmam que Hórus seria um Demônio...Mas ora, vejam só que "estudiosos" eles, não?Será que eles realmente sabem o que dizem?
Vamos lá...




Hórus é um deus muito antigo, já conhecido na época pré-dinástica. Era um deus solar, filho de Osíris e Isis, considerado como a manifestação do poder do Sol.  Para os antigos egípcios, Hórus é considerado a encarnação de Rá na Terra, a manifestação solar no plano material, o princípio do fogo.
Também era conhecido como deus do Sol nascente. Todos os dias ele lutava contra o exército das trevas para assegurar o nascimento do novo dia. Era tido também como protetor dos homens jovens, ensinando-os a serem filhos obedientes, para mais tarde tornarem-se homens justos e de bem, pois de acordo com a lenda, ele arriscou sua vida para vingar a morte de seu pai Osíris.
O animal que representava Hórus era o falcão, pois sua vista é tão poderosa que ele é o único animal que pode fixar o Sol. Dizia-se  que “Hórus era um falcão cujos olhos eram o Sol e a Lua, e cujo hálito era  o refrescante vento norte”.

Hórus, "o elevado", deus celeste na mitologia egípcia.
Nome egípcio: Hor
Nome grego: Hórus
Deus grego correspondente: Apolo
Animal: Falcão
Símbolo: Olho de Hórus
Planeta: Sol. 




"O olho de hórus é descrito como uma mistura de olho humano e de falcão. Há dois tipos de Udjats, o que olha para a esquerda (a Lua) e o que olha para a direita (o Sol); juntos, formam os dois olhos de Hórus. O amuleto trazia para os egípcios a força,  o vigor, proteção, segurança e boa saúde. O amuleto poderia ser colocado em qualquer parte do corpo do falecido e este, assim, se tornaria um deus, ocupando seu lugar no barco de Rá."


E então?
Não há nada de Demoníaco aí!
Vale lembrar, ainda, que A Santa Madre Igreja utiliza datas e rituais Pagãos em seus próprios Rituais. Dizem até que a história de Jesus pode ter sido baseada em várias outras histórias de deuses mais antigos, principalmente, Hórus.

Não estou aqui para tomar partido religioso nenhum, longe de mim!
Mas, nem tudo se pode levar à sério...

Cuidado com a Lavagem Cerebral alheia!!!
Acredite no DIVINO, meu povo...E somente isso!
A palavra do HOMEM não é nada, pois ela é usada até mesmo no que se dizem ser o Livro Sagrado...



Tormento...


O chão sumiu diante de meus pés...
A neblina tomou conta dos postes das ruas...
O vento sussurrava monstruoso...
E eu, ali, sozinho a caminhar...
A Lua coberta pelas nuvens grossas...
O silêncio gritando em meus ouvidos...
Sentindo o topor em cada membro meu...
O escuro agora já não me deixa enxergar...
De súbito, eu corro...
Vozes estão atrás de mim...
Já não sei o que é real ou não...
Mas preciso me arriscar...
Sei aonde tudo isso vai me levar...
Por tudo o que estou vivendo...
Por tudo o que estou morrendo...
Você, meu Anjo Negro, vem me salvar...

sexta-feira, 2 de abril de 2010

50 anos de Renato Russo.



No último Sábado, dia 27, Renato Russo completaria 50 anos de vida!

Lamentável não o ter por perto, mas por quê não relembrá-lo?

Abaixo, o Link de um video da Banda, o mesmo que citei no POST anterior.








http://www.youtube.com/watch?v=ctAWPmcHoF8



Camões.

Estive relembrando alguns textos que li e, até mesmo, músicas que ouvi e eis que me deparei com Camões...


Sim, acho que todos conhecem a música da Legião Urbana "Monte Castelo" que trás na letra um trecho de um Poema do Português em questão...




Vai aqui tal Poema...




"Amor é fogo que arde sem se ver."





Amor é fogo que arde sem se ver;


É ferida que dói e não se sente;


É um contentamento descontente;


É dor que desatina sem doer;


É um não querer mais que bem querer;


É solitário andar por entre a gente;


É nunca contentar-se de contente;


É cuidar que se ganha em se perder;


É querer estar preso por vontade;


É servir a quem vence, o vencedor;


É ter com quem nos mata lealdade.


Mas como causar pode seu favor


Nos corações humanos amizade,


Se tão contrário a si é o mesmo Amor?

* Anjo Negro *




Já se faz tão tarde que a Lua nem brilha mais.
Reviro-me na cama.Não durma, não tenho Paz...
Sei que não te esqueço...Nunca nem Jamais!
A imagem de seu rosto, em minha mente, não se desfaz...

Tomou-se em sua mãos e me sinto tão pequeno.
Não deverias eu ter provado do teu Veneno...
Mas é tão doce por ti me sacrificar.
Daria minha vida apenas pelo teu olhar...

E a vida é tão curta...Se perde em um segundo...
Sei que por você largaria o meu Mundo!
Não sereis tão nobre quanto outro vagabundo.
Pois me sinto frágil, frio e tão imundo!

Não há o que me faça perder a Esperança.
De te ver voltar, qual um sonho de criança...
Sei que em seu Mundo nada poderás mudar.
Mas vem, Meu Anjo Negro...Com teus lábios me matar...

Conto - Understanding - Thiago Assoni


O silêncio, pesar e sofrimento eram quebrados pelo som dos sinos da Igreja que soavam para findar o velório que lá se passava.
Havia mesmo muita gente, os bancos estavam todos ocupados, a tristeza se fazia presente com pesar nas vestes em luto daquela gente.
Lá fora, o céu, também vestido em luto, parecia chorar o fechamento do caixão. Em latim, o padre abençoava mais uma alma a qual findara com sua própria vida carnal.

- In nomine Patris et Filii et Spiritus Sancti...
- Amém. - respondeu a turba em uníssono.

Entrou cabisbaixa naquela Igreja uma moça alva de olhos claros e marcados à lápis preto que escorria à face pálida. Os cabelos negros misturavam-se às roupas de seu pesado luto. Atravessou os umbrais imensos sussurrando algumas palavras de significado íntimo.
Vagarosamente, ela andava até o altar. Olhava triste para aquelas pessoas. Seus parentes, amigos e outros que eram apenas alguns conhecidos. Alguns rostos brilhavam flashs de lembranças remotas.

Um verão com o então namorado numa praia há alguns anos, muitos daqueles presentes na Igreja eram ainda adolescentes. Corriam à beira do mar, chutavam a água para que molhassem uns aos outros. Naquela mesma noite, um Lual com os amigos, violão e fogueira. O carro do namorado um pouco mais distante, no alto de uma baixa colina. Sua primeira noite de amor em um carro...

Mantinha-se o silêncio pesado nos ocupantes da Igreja. Apenas a voz rouca do Padre que lia algumas palavras que não prendiam as atenções do que ali estavam.
A moça lhou para o altar e viu ali seu noivo e ele estava triste agora. Foi naquele mesmo altar que há alguns anos se casaram, trocando as juras de amor e promessas de união até que a morte os separassem...

-“Prometo ama-lo e respeita-lo todos os dias de minha vida... Até que a morte nos separe...”.
-“Prometo ama-lo e respeita-lo todos os dias de minha vida... Até que a morte nos separe...”.

Ela se aproximou dele, olhou-o triste. Ele chorava tanto. Sua tristeza era grande e a atormentava demais. Sentia seu peito doer com a dor dele e aumentava cada vez mais. Cada lágrima que escorria a face dura daquele rapaz, doía profundamente dentro dela.

"Please, don’t be afrain... When the darkness fades away..."

Nada que ela dissesse naquele momento iria conforta-lo. Sua tristeza era demasiadamente dolorosa, uma lacuna que se abria e se aprofundava tanto nele quanto nela. A tristeza era gritante, mesmo naquele silêncio.

- Você nunca estará sozinha, meu amor... Nunca...

Era o momento do caixão ser levado para o carro funerário e lá estava seu marido a frente do caixão. Mesmo sabendo que deveria, ela não se juntou àquela turba de zumbis e ficou sentada entre os degraus da escadaria à porta da Igreja, assistindo àquela triste cena.
Observa seu marido de longe, tão triste, tão choroso. Nunca o vira tão frágil.

Quando, enfim, o caixão foi posto no carro funerário e as portas traseiras foram fechadas, todos partiram todos para o cemitério em seus carros particulares. Ainda sentada à porta da igreja, Emilly viu os carros, um a um, sumirem lá depois das esquinas...

Os passos pareciam arrastados no caminho até a sepultura. Pedrinhas minúsculas em toda extensão do chão desigual e esburacado. O grupo de pessoas seguia o caixão em duro e absoluto silêncio, salvo exceção dos choros que seguiam baixinhos, inclusive o daqueles duas pequenas crianças que choravam sentidas pela morte de quem ali ia sendo levado...

Emilly, a moça que antes jazia entre os degraus polidos à porta da Igreja, sofria muito com tudo aquilo. Doía tanto vê-los daquele jeito. Eram crianças, não deveriam sofrer tanto assim...

Manteve-se afastada o tempo todo. Viu o momento em que pararam para uma ultima oração enquanto o céu escurecia mais e mais, as núvens grossas e negras surgiam para deixar o dia virar noite. Conforme via aquele momento, os pensamentos de Emilly rodavam em mente como se num filme fora de controle, ordem e velocidade. Oras lembrava de sua infância, oras de dias atrás. Em alguns momentos via tudo corrido, em outros em câmera lenta...

O nascimento de seu primeiro filho...Um menino lindo...
Relembrou o nascimento da menina, dois anos depois...

As criancinhas que choravam no velório... Eram eles, eram seus filhos! Olhou aos lados e encontrou também seus pais que choravam muito.
Então ela tentou falar com alguém, se aproximar... Mas ninguém lhe dava atenção e isso a deixava atordoada! O que estava acontecendo, por qual razão aquela dor no peito ainda doía tanto e cada vez mais?

"Hold and speak to me... Of love without a sound..."

A dor no peito doía insistentemente e o choro de todos acentuava aquele sentimento pesado que a prendia na terra, fixando os pés como se andando sobre areia movediça.
Dada a hora do sepulcro, sua visão escureceu...

Ouvi o som da chuva tilintar no vidro, o carro parou.
Era noite. Escutava, ao longe, uma discussão...
Os passos duros no chão molhado, ouviu os gritos
Ela puxava seu marido das mãos de dois grandalhões e um deles correu com algumas coisas na mão. O outro em seguida e parou num beco escuro. Também tinha algo em mão e ergueu o braço na direção dos que sofreram o assalto.

"Tell me you will live through this... And I will die for you..."
BAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAM ! ! !

O disparo ecoou em sua mente e sentiu o baque no peito seguido do líquido rubo em suas vestes empapadas.
Olhou para o local que doía tanto o tempo inteiro e lá estava o sangue que corria livre, fazendo-a sentir desfalecer novamente.
As pernas bambearam e a visão se fez turva. Lembrava de ter caído nos braços forte do marido que gritava seu nome initerruptamente e pedia por ajuda.
O vermelho e azulk do giroflex que cortava as ruas da cidade, a chegada ao Hospital, a equipe de médicos que corria ao lado dela na maca que seguia para a Emergência...

- Um...Dois...Três...Afasta!
E o choque fazia seu corpo saltar da maca, um apito agudo vinha breve...
- Vamos, mais uma vez...
E o choque percorreu seu corpo mais uma vez.
- Inútil...- disse o doutor, triste, jogando a máscara cirúrgica no chão.- Perdemos a paciente...

A chuva ainda banhava toda a cidade, lavando a sujeira das ruas e levando a tristeza para longe do jazigo onde Emilly estava agora. Todos já haviam indo embora, as flores jaziam sobre o mámore cinza.

Um túnel abriu-se a sua frente e ela compreendeu que precisava partir. Mas não queria ir, a dor era ainda muito real e não conseguia acreditar que era verdade.
Olhous para suas mão e sua roupa. Ela sangrava. Tremia.
O silêncio, pesar e sofrimento eram quebrados pelo som da chuva que insistia cair por sobre a necrópole, agora, deserta de seres vivos.

Olhou mais uma vez para aquele jazigo de mámore onde estava sentada, o vestido abrindo-se sobre o tampão recém-vedado. As letras douradas denunciavam aquilo o que não queria acreditar:

“Aqui jaz Emilly Rose”.

Ao som da Música: Understanding
Artista: Evanescence


quinta-feira, 1 de abril de 2010

Deusa...Lua!



LUA...
Dona das mais tristes Noites tácitas e sombrias...
Olhe-me...
Tome conta de mim, amante da Noite!
Cure minha solidão...Dê-me vida...
Preencha meu âmago frio e obscuro...
Seja Minha Companhia esta Noite...
Faça-me viajar para perto de ti.

LUA...

Encha meus olhos com Tua Beleza!
Me faça Brilhar...
Sejas tú a vida entre minha morte.
No Vale Das Sombras, sejas tú a minha Luz!
E quando a Terra eu deixar...
Seras tú a minha nova Morada...

LUA...

Dona da Minha Noite!
Dona do Céu Negro...
Ilumine meu Caminho...
Sejas Dona de mim...


LUA...