quinta-feira, 31 de maio de 2012

Desabafo pessoal. Pensando aqui...


Um Pensamento que tive:

Eu conheço muito sobre amizades virtuais e acho que todo mundo aqui também conhece, né?
Pois bem...
Falarei sobre relacionamento via internet. Primeiro, muitos acham meio absurdo, catastrófico e alguns até acham graça. Acho que estou meio cansado dessa hipocrisia virtual, viu? Ou pessoal mesmo, tanto faz! As pessoas que riem, são as mesmas que fazem isso o tempo inteiro e, só por que é mais bonitinho dizer, tornam-se contrário à esta prática! Cansei de falso moralismo, sabia? Isso estressa!
Outra coisa... As pessoas lutam por coisas que vão a favor, o tempo inteiro. Dizem que você não deve fazer coisas que eles fazem o tempo inteiro.
Ficam nessa de compartilhar, curtir, comentar... Entram em grupos, fazem o caralho à quatro... Cada uma viu? Esses dias, me adicionaram num grupo do Face onde o nome era “Gays safados”. Porra, quando eu pedi pra entrar num grupo desse? E outra: Quem disse que eu quero ser taxado de Gay Safado? Eu posso até ser, mas isso não precisa ficar estampado pra todo mundo ver não. Só os que merecem saberão o quanto sou ou deixo de ser. Depois que os Gays são todos visto como uns putos vão achar ruins. É por causa desse tipinho de gente que a “classe” Homossexual é mal vista pela sociedade até hoje e sempre serão! Será que os gays não entendem que o preconceito vem da gente mesmo? Somos nós – digo nós, por que estamos todos no mesmo barco. – quem levantamos o preconceito contra a gente na Parada Gay, onde ao invés de lutar por uma causa, fazemos do dia um grande carnaval com Gays pelados ou só de sunga, as travecona de peito de fora e aquela promiscuidade de beija e beija em cada esquina. Quando não, é sexo que rola solta no Vão do Masp. Que nojo dessas bichas sujas e pobres, meu Deus!
O preconceito contra o Gay só vai acabar quando os Gays se comportarem como pessoas normais de uma sociedade normal! Querem ser vistos como tal? Então se comportem como tal!
Isso é uma coisa que eu realmente não entendo! A Luta toda contra a Homofobia rola em torno disso: De os gays serem vistos como Seres de uma Sociedade normal, serem tratados como qualquer outro que faz parte dela. Mas são os gays mesmo quem fazem as palhaçadas todas! Acham lindo quando a Globo coloca um gay na novela e fazem dele um caricato, cheio de jeitos e trejeitos, como se um gay precisasse ser assim. Desculpem todos os gays ( até por que faço parte disso também) mas a culpa é NOSSA! E não reclamem não, por que é bem feito mesmo a falta de respeito que têm contra a gente. Se a gente não se mostrar um ser normal, não seremos respeitados como tal mesmo.
E tem mais, também... Todo carinha ( digo os gays, óbvio! Não sei dos outros) quer ser tratado com carinho, afeto, alguém que demonstre gostar dele, que quer algo sério e não só uma aventura... E esse mesmo carinha que SEMPRE diz que nunca encontra alguém assim, corre ao ver a pessoa que ele tanto quis um dia. Caramba, de que adianta a gente se mostrar um cara legal, que não pensa só em sexo, que quer um relacionamento se isso não é verdade? São poucos, muito pouco mesmo os que querem isso e aí vem mais uma vez o taxativo de sermos pessoas promiscuas e sem vergonha. Sabe que, por esse ponto de vista, começo até a concordar que não deve ter casamento homossexual no País? Imagina a palhaçada que vai ser? Óbvio que isso não se aplica ao todo, sejamos inteligentes pra entender meu desabafo! NÃO ESTOU GENERALIZANDO! Sei que existe amor entre gays, mas... É difícil encontrar.
Então... Devo eu ser sem alma e sem coração? Devo tratar os outros com indiferença e fazer de conta que não me importo? Devo conter o que sinto e me calar diante de quem eu gosto? Deixar de lutar pelo que quero? Fechar os olhos?
Não... Enquanto eu respirar, terei esperanças de um grande Amor na minha vida. Pode ser que demore dias... Meses... Anos... Ou talvez nunca chegue.
Mas eu morrerei tentando!

domingo, 27 de maio de 2012

O Sacrifício

The Sacrifice.

O breu tomava conta do salão extenso e cheio de cadeiras. Havia apenas as sombras dos que ali estavam sentados. O capuz pontudo, triangular. Só era possível ver a silhueta dos convidados. Havia um altar três degraus mais alto do corredor que se abria entre as cadeiras, posicionadas metade no canto direito do salão e a outra metade no canto esquerdo.
A porta se abriu violentamente. Uma Luz vermelha vinha lá de fora, adentrando o salão escuro e fazendo possível ver aquele que estava sentado em um trono dourado posicionado na frente do altar, abaixo dos degraus. Vestido em preto, cabeça coberta com aquele capuz de carrasco medieval. Só era possível ver seus olhos verdes esmeralda. Atrás dele, o enorme crucifixo de Cristo presente, pregado e lamentoso em sua quase morte. Os olhos tristes, as feridas em carne viva, o sangue que escorria de suas chagas, a coroa de espinhos ensopada em rubro quente. Entre a cruz e o trono dourado, havia o Padre. Batina negra, estola roxa, cruz de madeira nas mãos e os olhos vendados com uma fita vermelha de seda.
Dois homens nus adentraram o salão segurando um par de velas negras cada um. Não por coincidência, eram eles dois negros também. Tinham apenas a cabeça coberta por aquele mesmo capuz pontudo e, no peito, ostentavam uma argola prateada presa em uma grossa corrente que pesava no pescoço. O membro semiereto balançava livre entre as pernas e tinham as mãos sujas de sangue.
Em seguida, outros dois homens vestidos com o que parecia ser uma burca preta afegã, adentraram o salão puxando uma corrente grossa cada um. Estavam trazendo algo com eles, mas ainda não era possível ver do que se tratava. A Luz da Lua brilhava nas correntes, o que aumentava ainda mais a morbidez e o suspense daquela cena que parecia transcorrer em câmera lenta.
Mas logo foi possível vê-la entrar. O vestido imenso, vermelho, espalhava-se pelo chão. Seu rosto tenso, os olhos chorosos, a boca amordaçada, a cruz invertida pendurada em seus seios fartos, os cabelos longos e encaracolados cobrindo-lhe os ombros como um véu castanho. Tinha as mãos atadas pelas correntes que se enrolavam por todo o corpo, tal como uma serpente enrolada em sua presa, e que os dois homens de burca puxavam. Ela lutava para não seguir adiante, mas, atrás dela, duas moças nuas espetavam suas costas com um instrumento de tortura nada ortodoxo.
Quando chegaram ao centro do salão, o misterioso homem que estava sentado no trono dourado levantou. Não demorou, e todos os outros fizeram o mesmo. O farfalhar das roupas ecoou pelo salão escuro, o que assustou ainda mais a pobre garota, que continuava sendo puxada e levada para dentro.
A escuridão logo tomou conta do salão mais uma vez. A porta havia sido fechada e a luz vermelha se intensificou lá dentro em questão de segundos. Assim sendo, a escuridão deu lugar à vermelhidão sobrenatural e profunda. Tudo estava como num pesadelo. Silhuetas de pessoas vestidas de carrascos, aquele altar estranho, aquele homem misterioso sentado num trono dourado... Aquilo não era uma Igreja, era possível perceber pela estrutura do local. Não tinha cara de Igreja, nem vitrais, nem imagens, nada! Era apenas um salão sem janelas e arrumado para parecer com o altar de uma Igreja.
Quando próximos do trono, a garota foi jogada aos pés daquele homem, agora em pé. Os olhos verdes fixaram-se nos olhos da menina acuada e temerosa. Só agora que ela percebera aquele buquê de flores mortas em suas mãos. Ele parecia estar colado entre seus dedos, pois não havia caído quando fora atirada ao chão.
Quando olhou aos lados, já não havia mais ninguém no salão, apenas ela caída, ele em pé e o padre no altar. Na verdade, as pessoas ainda estavam lá, mas a iluminação não deixava nenhum deles visível.
A garota olhou, mais uma vez, para aquele belo par de olhos esmeralda. Ela queria gritar, mas a mordaça não permitia muito mais do que baixos murmúrios sôfregos e esganados. Os movimentos eram limitados devido as correntes. Conseguiu se levantar com muita dificuldade e encarou o homem que antes sentava no trono dourado de frente.
- Não tenha medo, bela garota...
Lágrimas escorriam dos olhos dela. Olhos negros, brilhantes. Estava apavorada. Não sabia onde estava e o que poderia acontecer. Estava vestida para casamento, mas o vestido era vermelho. Havia um buquê, mas as flores estavam mortas. Os convidados estavam na escuridão, o Padre estava vendado e o que era aquele homem vestido de preto, num trono dourado e o rosto escondido em um capuz de carrasco medieval?
O homem do trono dourado virou para o altar. Bateu palma três vezes e ouviu-se um farfalhar de roupas em meio à escuridão. Ele sorriu.
- Pater... – ele gritou, e sua voz ecoou pelo espaço que parecia vazio. – Inchoare ritu.
O Padre se moveu, pegando algo na mesa do altar. Levantou o objeto que a garota não conseguia ver direito o que poderia ser. Quando ele ficou de perfil, ela percebeu que era um atame. O Padre levantou o atame dizendo: In nome Patris... E depois se curvou para o lado direito dizendo: et filli... E virou para a esquerda: et Spiritus Sanct... E devolveu o atame ao altar: Amen!
O homem do trono dourado voltou-se para a garota. Os olhos dele sorriam. Ela queria correr, mas não sabia se conseguiria. As correntes eram barulhentas e machucavam seus pulsos. Ele estendeu a mão para ela.
- Venha até aqui, bela garota. Suba.
Ela remexeu-se, olhando aos lados à procura de um socorro qualquer, um milagre talvez, ou alguma pessoa sã que a salvaria. Precisava acreditar que aquilo não era real. Mas nada acontecia para acabar com aquele pesadelo lúgubre e sombrio.
- Ora, bela garota... – ele riu. – Venha logo!
Ela deu alguns passos para trás, o que fez ele rir ainda mais. Ele desceu alguns degraus e, quando ela ia correr, sentiu-se puxada pela corrente. Na escuridão, alguém ainda segurava aquelas correntes que prendiam suas mãos. Ela quase caiu, mas conseguiu se manter em pé.
- Isso está ficando cada vez melhor. – ele riu, mais uma vez. – O que vem fácil, vai fácil também...
Ele se aproximou dela, que chorava copiosamente sentindo as mãos doerem. Ele passou as costas da mão enluvada no rosto dela e desceu até o pescoço, passando pelo ombro e chegando aos seios fartos, apertados no vestido com corpete bem amarrado. Ele acariciou os seis alvos dela e riu.
- Mas foi mesmo uma ótima escolha essa a minha, não acha?
Ela não respondeu, apenas calou-se em seu choro sentido. Queria acordar. Precisava acordar e ver que tudo não passava de um terrível pesadelo!
Sem nenhuma piedade, ele agarrou o braço dela e a arrastou até próximo ao altar, bem ao lado do trono dourado onde ele estava sentado antes. O Padre estava imóvel, aguardando o comando daquele homem misterioso.
- Permanebit com ritu.
O Padre, que tinha aquela venda de seda vermelha nos olhos, curvou-se para pegar algo no altar. Era o cálice dourado, que ele ergueu e disse:
- Hoc est sanguine.
E devolveu o cálice ao altar. Logo, ele ergue outra coisa que deixou a garota de olhos arregalados. Era algo relativamente pequeno, que cabia na palma da mão daquele Padre. Era meio oval, talvez, e avermelhado. Era um... Coração?
- Hoc sunt symbolum peccatum.
Símbolo do pecado? Ela respirou, aliviada. Era apenas uma maça.
Então, ele segurou a mão da garota ao seu lado e subiram os degraus, aproximando-se mais do altar e do Padre. Quando ajoelhados ali, o Padre pediu a mão direita de cada um. Ela relutou, mas ele puxou o braço dela e estendeu a mão aberta sobre o altar. Num movimento rápido, o Padre levantou o atame e cortou a palma das duas mãos ali estendidas. O sangue brotou quente da mão dela, de forte rubro brilhoso. Da mão dele, era algo grosso, meio cinzento. Enfim, o Padre uniu as duas mãos e, enquanto segurava as duas, ainda juntas, disse:
- Et sic fecit unio Baphomet cum hoc pulchra virgo.
De súbito, o som do órgão encheu o salão e um coral melancólico cantou um réquiem mais sombrio do que o comum. A garota olhou para os lados, mais uma vez, na esperança de que, finalmente, alguém fosse aparecer. Não podia ser real. Aquilo o que ela ouvira não podia ser verdade! Havia se casado com Baphomet! Então, aquele par de olhos verde era um demônio?
Ouviu-se um ruído. A princípio, pequenas pedras rolando. Logo, o teto se abriu por completo e as paredes caíram. Uma nuvem de poeira se levantou, tomando conta da visão dela por longos minutos. Estava realmente sozinha agora. E estava sem as correntes, sem o buquê de flores mortas. Estava livre? Sorriu, imaginando que havia despertado, enfim. Estava acordando daquele pesadelo terrível! Não conseguia imaginar como fora parar naquele lugar, mas estava aliviada de saber que estava tudo bem, que poderia ir para casa.
Quando deu o primeiro passo, o pesadelo voltou a existir. Uma labareda subiu a sua frente e, vagarosamente, foi criando um grande círculo em torno de si. Seus olhos ardiam em chamas, tais como as que a cercava. Ela não estava livre, nunca mais estaria! Aos seus pés, viu o capuz negro de carrasco medieval. Segurou-o e procurou aos lados. Onde ele estava?
Dentre as chamas, viu a silhueta estranha surgir. Os chifres curvados, o rosto comprido e o corpo esguio, braços longos, e a parte debaixo escondida numa espécie de saia vermelha. No céu, a Lua se fez visível, lindamente em seu estágio crescente. E foi assim que ele surgiu, sorridente, braços erguidos, como quem pede um abraço de boas vindas.
- Sua vida de pecados lhe trouxe até mim, bela garota. – ele disse, enquanto uma cobra envolvia-lhe a cintura. – Pra que tu lê aquele livro, se não o segue, sua tolinha? Pra que resguarda teu corpo, que por mim será profanado? És minha agora, por obra do destino. Assim quis tua mãe e teu Pai, em troca de poder absoluto! Agora choram sua morte, enquanto eu a tenho em meus braços. É um belo pagamento, não achas?
Ela arregalou os olhos, temendo o que acabara de ouvir. Sentiu a barriga doer e surpreendeu-se ao levar a mão até aonde doía. Estava sangrando, ensopando o vestido que já era mesmo vermelho. Ela curvou-se de dor e caiu ajoelhada na terra arenosa. Vomitou e viu sangue sujar o chão. Olhou para cima, e lá estava ele, erguendo-lhe a mão.
- Venha comigo para toda a Eternidade...
Mais uma vez ela vomitou sangue e caiu em cima dos dejetos. Ele riu e a empurrou com o pé.
- Não sofras... Venha comigo... Ande Lilith. Levante-se!
Neste momento, a terra estremeceu e um forte vento surgiu, formando um rodamoinho, apagando o fogo que formava aquele círculo onde estavam. Era como se vermes e insetos levantassem do chão e possuíssem o corpo daquela garota ali estendida. Logo, ela se ergue.
- Estou pronta! – ela sorriu, dentes perfeito e o rosto lindo daquela jovem estava intacto, assim como a barriga que não sangrava mais.
Ele sorriu e estendeu o braço, servindo de companhia para Lilith. Essa seria sua vingança por anos de dor, solidão e lágrimas que nunca ninguém reconheceu. Sempre esquecida, deixada de lado, sem respostas, somente suas dúvidas sem fim. Seguiram pelo terreno espaçoso, em direção ao nascer do Sol. Era o começo de uma Nova Era.

sexta-feira, 25 de maio de 2012

Vamos "Satirizar" o Transporte Público em São Paulo?


Vamos Satirizar?
Transporte Público.



Engraçado como Paulista sempre reclama demais de tudo, não é mesmo? Poxa...
Falemos do transporte público. Oras, mas sejamos mais inteligentes! Numa cidade como a nossa, onde todo mundo vive correndo pra lá e para cá, termos um ônibus lotado faz todo o sentido! Isso é calor humano. Um ótimo lugar pra ouvirmos notícias do Jornal Nacional, sobre o Fantástico e a declaração da Xuxa, sabermos do que aconteceu na Novela das Nove, ouvir fofocas da vizinha que nem fazemos ideia de quem seja, ou do chefe que tem uma amante e um filho gay. E tudo isso por APENAS R$3.00. Olha que vantagem! Num momento onde as pessoas se falam cada vez menos, nosso Governo nos oferece um método inovador de fazer amizades! Nada de chat, bate-papo e Facebook... Que nada! A onda agora é o FriendsBus.

Ainda falando do Transporte da cidade de São Paulo, vamos lembrar-nos da CPTM. Falarei dos trens que saem da Estação Guaianases sentido Estação Luz. Plataformas lotadas, gente que não acaba mais. No auto falante, a voz sexy de uma mulher anuncia: “Não ultrapasse a linha amarela, ela é a sua segurança!”. É rir para não chorar! Mal consigo enxergar o chão da plataforma, quisá a linha amarela. Tem uma, é?
Quando trem chega na plataforma, é um Deus-nos-acuda! Parece que o mundo está acabando e a única forma de salvação humana é entrando naquela merda de trem! As pessoas que estão dentro do vagão saem no tapa pra conseguirem desembarcar. Os que estão fora, lutam como se numa guerra para embarcar. E quando dentro do vagão, a coisa melhora! É um que empurra, outro que encoxa... Tem mulher que sai grávida de dentro de um vagão. Certa vez, saí do trem com uma blusa pendurada no braço. Alguém ficou com frio naquele dia. O pior mesmo são as companhias dentro do vagão. Sempre tem aquele tiozinho barbudo que usa a mesma camisa a semana inteira, cheira à bebida e cigarro, quando não à cc mesmo. Senhor G-zuis... Lembrando também dos queridos jovens estudantes com suas mochilas nas costas e a porcaria do celular sem fone e funk tocando pra todo mundo ouvir. E as fofocas não são exclusividades do FriendsBus não. No trenzão tem também, viu? E é um português bonito o desse povo, sabe? “A gente fomos fazer” ou “a gente ficamos sabenu”. Isso dói na alma, sabia?
Óbvio que eu não posso me esquecer do maquinista, aquele senhor simpático que fica dentro da cabine, com todo o espaço pra ele, ar condicionado e musiquinha enquanto nós estamos piores que sardinhas dentro do vagão. Ouve-se um ruído de estática e a voz dele meio abafada dizendo: “Senhores usuários, bom dia! Esse trem tem como destino a estação Luz. O tempo estimado de viagem é de 34 minutos. A CPTM deseja a todos uma boa viagem!” Começa que ele já mente no tempo de viagem. 34 minutos, normalmente, ele demora pra chegar ao meio do caminho e olhe lá! Outra mentira é dizer que teremos uma boa viagem. Não dá pra se mexer, respirar é meio difícil com aquele ar abafado, mexer o pé nem pensar... E ainda tem momentos que a porta não quer fechar e ouve-se o maquinista dizer: “Não segurem as porta” Com certeza, não é mesmo? Está tão fácil ficar longe delas...

Tem também aqueles outros trens, os que vão sentido Francisco Morato, sentido Itapevi... Esses aí são Feiras Ambulantes. Qualquer coisa você compra ali dentro! É bala, caneta de marcar cd e DVD, chocolates que são manteiga pura e de marcas que NUNCA ouvimos falar, aparelho de barbear, porta bilhete único, enfim... É uma festa! E o mais legal é ver como os vendedores são bons de matemática: “Um é cinquenta, dois é um real!”. Qualquer dia as prostitutas vão fazer ponto ali dentro mesmo, deve ser mais rentável. Melhor do que ficar parado na rua correndo perigo e pegando friagem, não é mesmo? Fica dica aí pras garotas de programa: Façam ponto dentro dos trens. Esses mesmos trens tem outras características bem particulares: Cheiro de borracha e óleo queimado, um balanço o qual é preciso segurar forte pra não cair, um barulho quase ensurdecedor e, uma coisa que já aconteceu comigo mesmo, pessoas caem dentro do vagão pela janela, vindo de fora mesmo.

Dentro dessa correria toda, muitas coisas acontecem e viram engraçadas depois que passa. Já vi de tudo! Uma senhorinha perdeu o par de Havainas, caindo no chão e sendo pisoteada; bolsas que ficam para trás enquanto seu dono já está fora do vagão... É tanta coisa...
Não bastasse toda essa aventura na CPTM, temos ainda o Metrô. Ah sim, claro! O adorável Metrô de São Paulo! Pra conseguir “pegar” um, você precisa esperar dois ou três pra ir bem. A menos que você seja aventureiro e queira ir amassado mais um pouco. Sem esquecer que não é nem preciso você se esforçar para entrar em um. O empurra-empurra já te faz entrar sem precisar fazer muito pra isso. Quando você pensa que pode, talvez, esperar o próximo, você já está lá dentro. E o metrô não tem ar condicionado não. É na raça mesmo, calor e suor. Tem aquelas janelinhas que mal abrem e olhe lá. Ou então, quando é o metrô novo, é aquele ar fortíssimo, absurdo. É oito ou oitenta.
Dentro dos vagões do metrô tem uma plaquinha, agora, onde incentiva a denuncia à práticas indevidas dentro dos vagões. É o SMS Denúncia. E é suuuuuper prático! Vamos ao exemplo:
Imagine uma cena de assalto no vagão. Imaginou aí? Pois bem. Tudo o que você vai precisar é somente isso:

- As características do infrator;
- O número do carro onde você está;
- A linha;
- O sentido de deslocamento;
- O nome da próxima estação.

Viu? Super prático e eficaz! Tenho certeza que você vai conseguir digitar tudo isso no seu celular e enviar a mensagem pra denuncia. Convenhamos, né? Vai chegar a próxima estação e você nem conseguiu terminar a descrição do infrator, ainda mais todo o resto. E essa de número do carro? Como você vai ter tempo de procurar o número do carro sem ser notado pelo ladrão? E não podemos esquecer, também, de esperar o metrô sair do túnel, afinal, não é todo aparelho que funciona nos túneis. E tem também a questão de tempo. O Ladrão vai sair correndo, aí você corre atrás dele e segura ele pelo braço: “Espera aí, Senhor Ladrão! Estou mandando um SMS Denúncia por causa do seu roubo, só um momento.”.

Mas, então... É assim que funciona o Transporte Público em São Paulo. Entretanto, mesmo passando por tudo isso, nossa cidade é incrível! Recebemos uma centena de ônibus carregados de migrantes iludidos de que tudo aqui é melhor! Temos trânsito parado, avenidas mal estruturadas e sinalizadas, mendigos na Praça da Sé, travecos fazendo programa na Augusta... Mas tudo é maravilhoso! É incrível! A cidade das Oportunidades infinitas! Venham todos! Venham pra São Paulo e morem num barraco de madeira numa encosta prestes a deslizar e matar sua família! Ou morar perto de córregos à céu aberto, na companhia de ratos, baratas e outras muitas doenças!
Pois é, Brasil... Esse é o Lugar onde vai acontecer a Abertura da Copa do Mundo. Mas, afinal, pra que se preocupar com outras questões, não é mesmo? Receber a Copa, as Olimpíadas... Isso sim é o que a gente precisa mesmo!
Obrigado pela paciência. Comentem aí. E já peço desculpas se falei mentiras demais...

sábado, 19 de maio de 2012

- The Haunted -




Dois.

O Pesadelo.


Outubro de 1945.

Os raios cortavam o céu escuro daquela noite chuvosa. O Casarão ficava em meio às árvores daquele terreno imenso e sem outros moradores ao redor. Nenhum vizinho, nenhuma outra casa. Nada! Tudo era longe daquele lugar.

Não fossem os trovões de quando em quando, a mansão estaria em total silêncio. As paredes estavam cobertas de sangue, que escorriam livre até o chão de madeira. A água da chuva tilintava nos vidros das janelas fechadas. O vento uivava e vinha rasteiro.

Os passos fortes faziam o chão de madeira ruir. O velho de barba branca deixou-se escorregar pela parede e ficou jogado num canto, chorando.garrafa tombada ao seu lado, sua espingarda ainda esfumaçava caída aos seus pés. Pela sala, espalhados os corpos da esposa e das duas filhas mulheres. As empregadas estavam mortas na cozinha e o mordomo morto na porta de entrada.

- Eu sou um maluco... Velho pirado... –ele chorava.– Eu matei todos eles... Todos estão mortos agora... Eu os matei.

Ele riu. Olhou o sangue nas paredes e pelo chão. Ria. Enlouquecido, ele ria. Levantou-se com certa dificuldade. Examinou a garrafa e verificou que estava mesmo vazia. Ouviu-a se espatifar em pequenos pedaços após jogá-la para trás, sem ver onde tinha caído. Trôpego, seguiu até a escada que levava para os quartos no andar de cima já com a espingarda em mãos novamente. Quando alcançou o último degrau, voltou-se para a sala lá embaixo e riu mais uma vez. Uma gargalhada que encheu a casa cheia de corpos que ele acabara de matar.

Quando outro raio iluminou a casa, ele olhou pela janela a chuva que caia lá fora. O trovão invadiu a casa e fez tremer as paredes.

- Que merda eu fiz... Eu devo mesmo estar louco...

Outro raio cortou o céu, desenhando um risco luminoso abstrato pelo firmamento, uma tela negra e profunda.

O velho levantou a espingarda na altura do queixo e colocou o cano duplo na pele branca e enrugada.

- Tende piedade de minha alma...

O som do tiro ecoou pela mansão. A chuva continuava lá fora. Não havia mais nenhuma pessoa dentro do casarão.

quinta-feira, 3 de maio de 2012

Das Vantagens de Ser Bobo...


Não é preciso dizer muita coisa, mas, queria só fazer uma pequena observação: Ela simplesmente sabia o que dizer... E dizia! Sagitariana e, como tal, não poderia mesmo manter segredo de tudo o que sentia. Porém, não se revelava completamente, sendo sempre taxada hermética.
Não hei de postar o texto inteiro, apenas um trecho que mais me chama atenção.

"[...] a vantagem de ser bobo é ter boa-fé, não desconfiar, e portanto estar tranqüilo. Enquanto o esperto não dorme à noite com medo de ser ludibriado. O esperto vence com úlcera no estômago. O bobo não percebe que venceu. [...]O bobo é sempre tão simpático que há espertos que se fazem passar por bobos. Ser bobo é uma criatividade e, como toda criação, é difícil. Por isso é que os espertos não conseguem passar por bobos. Os espertos ganham dos outros. Em compensação os bobos ganham a vida."