segunda-feira, 11 de abril de 2016

"Êxodo" - Conto - por: Thiago Assoni.



Parado, olhando para meus olhos de vidro no espelho sujo e com uma lasca solta na ponta direita da parte de cima, notei que não era mais meu rosto que via naquele reflexo desfocado e triste.
Um sorriso em risco reto, olhar vazio e sem brilho. Meus fantasmas todos sobrevoando uma nuvem negra sobre minha auréola enegrecida. A lâmpada piscando por conta da fiação precária, azulejos antigos e de um azul gasto e manchado...
Tentei sair daquela situação por tantas vezes que meus braços já nem se erguiam mais, cansados demais para lutar contra o que quer que fosse. A pia servia como apoio, a única que ainda o fazia.
Respirei fundo e fechei os olhos, perdendo meu contato visual com um falso eu no espelho. As formas disformes da escuridão já não me botam mais medo, naquele pavor infantil de outrora... Ah, se todo o mal fosse a penumbra da noite, aquela que sempre temi...
As trevas agora são outras!
Habitam corações e não espaços onde eu possa estar. Não é o escuro do meu quarto que me faz tremer, mas o pretume de algumas almas, o vazio de alguns sentimentos. O encanto que se faz ausente; a alegria enferrujada; a gentileza que jaz sob sete palmos de arrogância...
Sinto falta do meu medo da noite, dos temores infantis. Hoje, triste, me assisto me tornar aquele mostro que sempre repudiei... Pior que isso: decepciono-me ao perceber que não me importo...
Abro os olhos. Encaro aquele eu desconhecido, minhas formas ficando disformes para mim, enquanto me perco na escuridão daquela noite, nos meus medos, na minha penumbra...
Viver para sonhar...

Morrer para despertar.

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