Parado,
olhando para meus olhos de vidro no espelho sujo e com uma lasca solta na ponta
direita da parte de cima, notei que não era mais meu rosto que via naquele
reflexo desfocado e triste.
Um
sorriso em risco reto, olhar vazio e sem brilho. Meus fantasmas todos
sobrevoando uma nuvem negra sobre minha auréola enegrecida. A lâmpada piscando
por conta da fiação precária, azulejos antigos e de um azul gasto e manchado...
Tentei
sair daquela situação por tantas vezes que meus braços já nem se erguiam mais,
cansados demais para lutar contra o que quer que fosse. A pia servia como
apoio, a única que ainda o fazia.
Respirei
fundo e fechei os olhos, perdendo meu contato visual com um falso eu no
espelho. As formas disformes da escuridão já não me botam mais medo, naquele
pavor infantil de outrora... Ah, se todo o mal fosse a penumbra da noite,
aquela que sempre temi...
As
trevas agora são outras!
Habitam
corações e não espaços onde eu possa estar. Não é o escuro do meu quarto que me
faz tremer, mas o pretume de algumas almas, o vazio de alguns sentimentos. O
encanto que se faz ausente; a alegria enferrujada; a gentileza que jaz sob sete
palmos de arrogância...
Sinto
falta do meu medo da noite, dos temores infantis. Hoje, triste, me assisto me
tornar aquele mostro que sempre repudiei... Pior que isso: decepciono-me ao perceber
que não me importo...
Abro
os olhos. Encaro aquele eu desconhecido, minhas formas ficando disformes para
mim, enquanto me perco na escuridão daquela noite, nos meus medos, na minha penumbra...
Viver
para sonhar...
Morrer
para despertar.
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